segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CARUARU E O ALMOÇO COM OS PASSARINHOS


CARUARU E O ALMOÇO COM OS PASSARINHOS
De: Ysolda Cabral

Há uns dois anos mais ou menos, havia prometido levar minha amiga Cecília para conhecer minha terra natal; Caruaru. Promessa difícil de cumprir uma vez que, quando uma tinha disponibilidade de tempo à outra não tinha.

Finalmente no último dia 30, pude cumprir a promessa.

Saímos do Recife por volta das oito da manhã. Na estrada pegamos muita chuva. E, ao subirmos a Serra das Russas, a serração era tanta que precisei ligar os faróis, reduzir, em muito a velocidade, pois não se enxergava nem um metro à frente do veículo.

De repente me vi dirigindo numa estrada nas nuvens. Sorrindo feliz, desliguei o som do carro para não perturbar o silêncio dos “anjos” e perguntei à Cecília:

- Que tal viajar no Céu?

Pelo amor de Deus Ysoldinha, que é que isso?! Protestou minha amiga de olhos arregalados.

- Ah! Que louca sou de falar assim... Recriminei-me “descendo do Céu”, bem na cidade de Gravatá, nossa "Suíça Pernambucana II". ( A primeira é Garanhuns, conforme observação do meu amigo Lorde Dinamarquês)

Seguimos viagem...

Logo estávamos em Caruaru e fiquei um tantinho decepcionada por não ter muita coisa para mostrar à minha amiga. A cidade está feia, suja, cheia de obras públicas e pelo visto, de lento andamento...

O Morro do Bom Jesus, o qual era nosso cartão postal, se tornou uma favela feia e triste. A Rua da Matriz se tornou um comprido e estreito estacionamento de carros, carroças, bicicletas e motos.

A Praça do Rosário foi reformada e até que tentaram deixá-la bonita. Infelizmente o resultado não foi grande coisa, pois nem de longe lembra aquela da fonte de água colorida de minha infância. Enfim...

Sentindo-me triste e convicta de que seria impossível chegar à feira de artesanato, devido ao trânsito caótico, resolvi levar Cecília, direto para o Pólo Comercial, pois minha amiga estava ansiosa para conhecê-lo.

Lá, ela se deslumbrou com o espaço, o qual é gigantesco. A enorme variedade das confecções de boa qualidade e preços em conta, facilmente nos seduziu a comprar coisas até que nem precisávamos.

Lá pelas tantas, fomos almoçar.

Na Praça de Alimentação almoçamos em companhia de muita gente e, no mínimo, de uns cinqüenta passarinhos, lindos e bem gordinhos, os quais voavam e cantavam a nossa volta e por sobre nossas cabeças. Foi não foi, pousavam em nossas mesas, comiam do nosso prato sem a menor cerimônia.

Um deles, na mesa vizinha, me chamou a atenção, pois dormia a sono solto, com a cabeça escondida dentro da asinha que nem se mexia!

Pedi à Cecília que tirasse uma foto. Ela tirou, mas esqueceu de salvar de tanta emoção.

Deslumbradas com a cena, digna de filme e muita poesia, fomos interrompidas por uma “gentil senhora” que nos observou:

- Vocês viram que ele está dormindo em pé e que a latinha de cerveja está “deitada” em cima da mesa?

- O passarinho está é bêbedo!

E foi embora morrendo de dar risada, mangando de nós duas.

Olhei para Cecília e vi na cara dela a indignação que sentia na minha.

Sem mais delongas, lhe disse:

- Vamos embora!

- EU NÃO SOU MAIS DAQUI.


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Publicado no Recanto das Letras em 08/11/2010

Código do texto: T2604028